5/12/2009

MORTE


A MORTE

Se, na verdade, ao morrermos, tivéssemos a opção de vivermos sem corpo, certamente que havia muita gente que não se importava de viver sem ele. Não gastávamos dinheiro em comida, não tínhamos que nos preocupar com a subida cavalgante dos combustíveis, nem com a última moda, nem telemóveis, Internet e, tantas outras coisas que fazem parte das necessidades do ser humano…

Pela ordem natural das coisas, o homem nasce sem dentes, sem cabelo e sem ilusões e morre da mesma forma. O humorista Woody Allen diz não ter medo de morrer, não quer é se encontrar lá quando perecer. Mas, se é verdade que ninguém pode assistir ao seu próprio funeral, a verdade também, é que todos têm que ser recebidos pela morte, algo temível e inevitável, o que, por isso mesmo, não devíamos estranhar.

Pedro Caldéron de la Barca, deixou-nos esta quadra: Vem morte, tão escondida/ Que não te sinta vir/ Porque o prazer de morrer/ Não me volta a dar a vida.

Se fossemos eternos, as religiões deixavam de ter sentido, nem talvez tivéssemos respeito pela vida, (a nossa e das outros), já que, mesmo assim, poucos a respeitam…
Mas tudo é ao contrário, somos frágeis e perecíveis e, como tal, precisamos de crenças que nos dêem uma certa tranquilidade e segurança, mesmo que, para os outros, possa parecer absurdo.

“ O homem é como a espuma do mar, que flutua à superfície da água e se desvanece quando sopra o vento, como se nunca tivesse existido. Assim a morte arrebata as nossas vidas” – Khalil Gbron.

A morte é cantada pelos poetas, motivo para artistas, como pintores e escultores, o lirismo na sua máxima expressão…e sempre foi e será, o resultado das grandes contendas e das grandes batalhas e o ponto final de cada vida…!!!!
Mas, para a maior parte das pessoas, a morte não é o fim, mas o princípio de uma qualquer existência numa outra dimensão. Essa perspectiva daria ao homem a possibilidade da existência de uma vida eterna, mas porque o homem já a tem, não vejo necessidade de egoisticamente a desejar. E tem, porque cada ser que nasce, é a continuidade da quem parte. Nesta sucessão sucessiva de vida, leva-nos a dizer que o homem é eterno, não como ser individual, mas colectivo, unido infinitamente pelas mãos daquilo que forma o eterno…
Apesar de André Malraux dizer que há uma fraternidade que só se encontra no outro lado da morte, considera também que a morte não é assim tão importante nem grave; a dor sim. A morte, diz ele, só tem importância, na medida em que nos faz pensar na vida.
E continua: não chegam nove meses, são precisos cinquenta anos para fazer um homem. Cinquenta anos de sacrifício, de vontade, de tantas coisas! E quando esse homem está feito, quando já não resta da infância, da adolescência, quando se é verdadeiramente um homem, não serve para nada mais, senão morrer.
Mas serve naquilo que deixa. Todos fazem alguma coisa para a eternidade. Todos deixam tijolos para que outros possam dar continuidade à construção do edifício da vida, com conhecimentos, obras e soluções. O homem é eterno, mas mortal, o homem é
forte, imponente, mas não passa de um monte de areia ou de pó, ou até cinza, mas que se move porque transporta vida…como qualquer animal…