1/22/2016

O MEU GATO NÃO SABE LER

O MEU GATO NÃO SABE LER
Hoje resolvi dar os bons dias à vida, beijar a alegria e falar com a felicidade. Afinal não estou zangado com a vida, não tenho nada contra a alegria e dou-me muito bem com a felicidade. Muitas vezes acordamos com vontade de não termos vontade de alguma coisa fazer ou fazer coisíssima alguma. Esta atitude é sinónimo de que alguma coisa não está bem, principalmente dentro de nós, embora não sejamos imunes aos estímulos exteriores.
Tudo isto vem a propósito, depois de ter chegado à conclusão de que o meu gato não sabe ler. É verdade, não se ria, o meu gato não sabe mesmo ler, nem respeita quem sabe. O bichano, compreensivelmente, fez duns jornais que eu tinha seleccionado, nada mais, nada menos, de que uma cama e, por mais que eu queira instrui-lo neste sentido, ele apenas olha-me de uma forma, como quem chama maluco a alguém. É evidente que lhe dou razão. Cada coisa é vista por ângulos diferentes. Em vez de esperarmos que seja a vida a dar-nos os bons dias, porque não devemos ser nós a saudá-la? Se, no lugar de nos torturarmos na tristeza, porque não cultivarmos a alegria? E se saudarmos a vida e cultivarmos a alegria nunca estaremos de costas
voltadas para a felicidade.
O meu gato é feliz ao transformar papéis impressos, num espaço que certamente lhe dá conforto. Nós, se nos esforçarmos, também seremos capazes de conseguir transformar as coisas que nos rodeia em coisas de prazer, de bem-estar e de alegria. Não existe um modelo único para nos sentirmos felizes, porque cada pessoa é uma pessoa e, embora habitemos todos no mesmo mundo, dormimos em camas diferentes. Toda e qualquer mudança só são conseguidas quando acontece dentro de nós. A felicidade a alegria e até Deus, se assim o entenderem, moram dentro do próprio homem, quando são procurados fora dele. Não concordo com Jardiel Poncela, quando diz que só existem duas maneiras de alcançar a felicidade: uma é fingir-se idiota; outra é sê-lo. Não me parece que seja obrigatório ser idiota para um indivíduo alcançar a felicidade. Talvez sejamos idiotas se nunca a alcançamos, porque o gato não é idiota de “alcançar a felicidade”na cama feita de jornais. Pior do que isso é lermos as notícias, sempre repetidas, de toda a espécie de infortúnios. Por outras palavras as desgraças deste mundo, considerado “infeliz “ por ter sido criado pelo homem, que também o vai destruir totalmente. É tudo uma questão de tempo!
Jacinto Benavente diz que a vida é a ardósia dos sonhos. Mas também diz que a vida é como uma viagem por mar: há dias de calma e dias de tempestade. Cada um tem que se tornar num bom capitão do seu navio.
A atitude do gato pode ser considerada exemplar. Ele não sabe ler. Ora quando não sabemos certas coisas não podemos ser responsabilizados por elas. Ele escolheu o lugar de conforto e de prazer, apesar de ter diferentes espaços como opção, foi aquele que lhe proporcionou bem-estar. Dormiu descansado, o que, nos tempos que correm, é difícil para a maioria das pessoas. Ao despertar miou, como que a dizer bom-dia à vida. Passou a cauda pelas pernas dos presentes, demonstrando que se sentia alegre e quando a comida lhe foi colocada no prato, saiu com outro miado, que se pode traduzir como uma atitude de felicidade…. Façamos como o gato e, certamente, daremos mais valor às coisas pequenas, mas que são tão valiosas. Como somos seres humanos, procuramos a felicidade naquilo que existe em quimeras e ilusões do sempre mais e mais e, como tal, movimentamo-nos nas veredas da ganância e tornamo-nos doentes do ter e do ser.
“ A vida é um hospital onde cada doente está possuído pelo desejo de mudar de cama.”-Charles Baudelaire.
PROF.HERRERO

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